sexta-feira, 30 de maio de 2014

"É tão estranho,os bons morrem antes"

São tempos negros para a sociedade angrense.Jovens de todas classes sociais  vão sendo dizimados por questões diversas.A morte de um jovem provoca uma ruptura,muitas vezes,irreparável.Sofrem todos,por vezes,morremos um pouquinho com eles.Vivi esta experiência na carne,quando perdi meu irmão mais novo,com apenas 22 anos,em um acidente automobilístico.É uma dor sem fim!Vi minha família ser desmontada com o fim daquele sorriso que se apagou numa noite de sexta-feira.Como dizia Renato Russo:" é tão estranho,os bons morrem antes".
Chegamos para o velório sem a menor ideia do que falar.Entreolhamos uns aos outros,como numa busca pelo ressuscitamento.Poderíamos ali,naquele instante,irmos até a causa mortis e mudar tudo.São devaneios,mas é assim que me sinto.Queria frear o carro um instante antes,parar a bala,ter um pulmão subsalente...como queria fazer parar aquela dor infinita!Porém,não há remédio.Vivemos um turbilhão de sentimentos,enquanto vai se cumprindo os últimos rituais da presença corpórea de quem tanto amamos.Já se vão longos anos da morte do nosso Tatinha,mas continuo olhando no meio das pessoas,procurando resquícios daquele moleque feliz.Me pego imaginando como ele seria nos dias de hoje,já quarentão?Confesso que o tempo passou,mas a dor não minguou.
Quando partilho de um velório de um jovem,reproduzo a minha dor da perda.Posso sentir o gotejar de cada lágrima dos enlutados.Me ponho a pensar nos dias que virão,serão dor sobre dor.Todos em volta vão retornando às suas vidas,a normalidade se estabelece para todos.Contudo,aprender a viver com a ausência de quem teria uma vida inteira pela frente,não é nada fácil.Sofri muito esta semana com a morte da filha do meu amigo Carlinhos,nem tinha muita intimidade com ela,uma atriz promissora.Entretanto,revirei meu passado sofrido,vi neles a dor que sentimos,eu e minha família,naquele longínquo 19 de Junho de 1993.É uma perda irreparável,é o fim de muitos sonhos.Gostaria de fechar este texto com palavras de incentivo,mas elas não existem nesta ocasião.O tempo tratará a ferida,de vez em quando,como ocorreu comigo agora,fatos vão arrancar a casquinha da ferida.Vai sangrar de novo.