Um momento pode não confirmar,mas uma vida inteira pode ser definitiva na confirmação de atitudes.Minha experiência de vida tem a marca de como a diferença de cor da pele tem importância.Antes de completar dois anos de idade, fui pego para criar por uma amiga de minha Mãe,uma negra de origem humilde.Ela tinha mais dois filhos,trabalhava como catadeira de café,era analfabeta,muito pobre.Era uma realidade adversa e eu,como todos sabem,sou bem branquinho.As experiências com pobreza e racismo se fundem,uma sem a outra não subsiste.O preconceito se acentua com a pobreza,mas um não elimina o outro.Preconceito velado é uma coisa,muito triste,mas racismo é outra.O que nos deparamos hoje é com racismo,o mais estúpido sentimento humano.
Menino,já em crescimento e com algum discernimento,percebia o olhar estranho das pessoas ao ver aquela negra ser chamada de Mãe por um catarrentozinho muito branquinho.As pessoas brincavam com aquilo,minha Mãe achava graça,pois eu defendia com alguns argumentos bem inocentes a maternidade dela,quando algum engraçadinho dizia que um branco não poderia ser filho de uma negra.Repetia para que ela mostrasse seu seio,a parte mais embranquecida de sua pele,para confirmar que era seu filho.A cor da pele ,no meu caso,era sobreposta pela única coisa que pode superar a estupidez do sentimento racista,o amor.Aquela relação de filho adotado me trouxe uma certeza,que trago para toda vida minha vida: o preconceito tem de ser encarado com indiferença,pois,com pessoas estúpidas,o enfrentamento só traz desgastes.O racismo tem de ser tratado com a força da lei.Mesmo com toda a miscigenação brasileira,o preconceito existe,negá-lo é empurrar a sujeira para debaixo do tapete.Os negros aprendem a conviver com ele.No caso de minha família,que ascendeu economicamente,sempre vi meu irmão mais velho brincar com o preconceito,mas sempre impondo sua dignidade como ser humano e negro.Aprendi que valemos pelo que somos.
As atitudes racistas do momento,reafirmam que a sociedade ainda tem bem viva o racismo,mas não é só contra negros.A atitude do jogador de futebol Daniel Alves foi fantástica,essa turma tem que ser tratada com indiferença.Contudo,o ato tem que ser conduzido exemplarmente.Ali não há preconceito ,há racismo panfletário.O cara que fez isto tem uma intensão clara: afirmar diante da sociedade a inferioridade dos negros.Pegou 3 anos de prisão,ótimo exemplo.Mas o preconceito será sempre latente na sociedade,não há como negar,ele existe,persiste e precisamos de muita maturidade para conviver com ele.Agora,quem ama o próximo não padece deste mal.Aquele amor que minha família adotiva me deu,procuro sempre dá-lo como retribuição à estupidez humana.